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Tribunal do Reino Unido considera mineradora responsável pelo maior desastre ambiental do Brasil

Ione WellsCorrespondente da América do Sul

AFP via Getty Images

Dezenas de milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos e lamas foram lançados nas comunidades vizinhas à barragem

A mineradora BHP foi considerada responsável pelo Supremo Tribunal de Londres pelo rompimento da barragem no Brasil em 2015, conhecido como o pior desastre ambiental de todos os tempos no país.

O rompimento da barragem matou 19 pessoas, poluiu o rio e destruiu centenas de casas.

Representando mais de 600 mil pessoas, incluindo civis, autoridades locais e empresas, o caso civil valia até 36 mil milhões de libras (48 mil milhões de dólares).

A BHP disse que apelaria da decisão e continuaria a lutar no caso, dizendo que muitos demandantes no caso de Londres já haviam sido indenizados no Brasil.

A barragem de Mariana, no sudeste do Brasil, pertencia à Samarco, uma joint venture entre as gigantes da mineração Vale e BHP.

Os advogados dos demandantes argumentaram com sucesso que o julgamento deveria ser realizado em Londres porque a sede da BHP “estava no Reino Unido no momento do rompimento da barragem”.

Uma ação separada com mais de 70 mil demandantes foi movida na Holanda contra a mineradora brasileira Vale, a segunda controladora da Samarco.

A barragem servia para armazenar rejeitos da mineração de minério de ferro. Quando explodiu, libertou dezenas de milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos e lamas. A lama devastou comunidades, destruindo centenas de casas e envenenando o rio.

A juíza Finola O’Farrell disse na decisão do Tribunal Superior que continuar a aumentar a altura da barragem quando ela não era segura foi a “causa direta e imediata” do colapso da barragem, o que significa que a BHP era responsável sob a lei brasileira.

A BHP deverá recorrer da decisão.

O presidente da BHP Minerals Americas, Brandon Craig, disse em comunicado que 240 mil demandantes no caso de Londres “já foram indenizados no Brasil”.

“Acreditamos que isso reduzirá significativamente o tamanho e o valor das reivindicações na ação coletiva do Reino Unido”, acrescentou.

O caso estava repleto de diversos conflitos entre a BHP e a empresa britânica Pogust Goodhead, que representava os demandantes.

A BHP sempre negou responsabilidade e disse que o caso de Londres ecoou procedimentos legais e programas de reparo e restauração no Brasil.

A BHP e a Vale criaram uma organização chamada Fundação Renova, encarregada de indenizar as vítimas. Ele ofereceu-lhes uma compensação em dinheiro ou uma casa numa nova cidade que a fundação estava a construir para substituir a cidade de Novo Bento, e processou centenas de milhares de pessoas por milhares de milhões de dólares em reparações e indemnizações.

Uma apresentação da BHP e do empreendimento Samarco da Vale em junho afirmou que cerca de 130 mil pessoas no Brasil assinaram acordos com eles. Em resposta, Pogust Goodhead alegou que as empresas pressionaram os requerentes a “pagar sinistros muito abaixo do seu valor real” e que, como resultado, ele iria pedir 1,3 mil milhões de libras em salários não pagos perdidos.

Alegou que o acordo de compensação de US$ 30,3 bilhões que o Brasil assinou com BHP, Vale e Samarco em outubro de 2024 impediu os demandantes de discutir o acordo com a empresa ou de pagar honorários advocatícios.

A empresa disse que incorreu em custos de empréstimos de US$ 1 bilhão para financiar o caso na Inglaterra.

A BHP disse que rejeitou integralmente as alegações de Pogust Goodhead e contestou sua “base factual e legal”.

Afirmou-se que as alegações eram “injustas” e que a BHP iria “contestar veementemente essas alegações”. Um porta-voz também disse que a empresa continua acreditando que o Brasil é o local mais apropriado, eficaz e eficiente para compensação pelo rompimento da barragem.

AFP via Getty Images

Algumas das pessoas afetadas pelo desastre foram ao Supremo Tribunal no ano passado

Mas houve alegações paralelas de que a Pogust Goodhead, que se apresenta como uma empresa que representa os direitos humanos e a legislação ambiental, estava a tentar lucrar com os brasileiros “vulneráveis”.

Durante a audiência, a empresa foi acusada por um juiz brasileiro no estado de Minas Gerais de “enganar” brasileiros vulneráveis ​​em seus próprios interesses.

Pogust Goodhead rejeitou a acusação na época como “injusta”.

Na ação movida contra Pogust Goodhead por Promotores e Defensorias Públicas no Brasil, o juiz criticou algumas “cláusulas de má-fé” nos contratos de Pogust Goodhead com brasileiros lesados.

Entre estes, o escritório de advocacia supostamente se envolveu em “publicidade enganosa”, considerando a “extrema vulnerabilidade das pessoas afetadas”.

Alega também que “a cobrança excessiva de valores de indenização obtidos extrajudicialmente no Brasil” representa “enriquecimento ilegal que desvia recursos essenciais dos afetados” e que são impostas penalidades “excessivas” aos reclamantes que rescindem seus contratos, o que, segundo ele, os “encoraja” a participar de programas nacionais de indenização.

Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, disse à BBC no início deste ano que acreditava que isso equivalia a espalhar informações enganosas no Brasil.

Barbosa disse que levar o caso a Londres “prejudicou os esforços para resolver o problema localmente” e que “brasileiros altamente vulneráveis ​​foram enganados pelos contratos”.

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